O feminismo é para todas?!

Os recortes dentro do movimento feminista estão sendo cada vez mais abraçados, cada vez mais debatidas em todos os lugares, em todos os espaços; mulheres trans, mulheres negras, mulheres gordas e mulheres magras, mulheres acima dos 50, mulheres asiáticas… Mas ninguém está nem perto de chegar nas mulheres com deficiência.

 A única coisa que me passa pela cabeça quando eu vejo que o movimento feminista simplesmente não cita as mulheres com deficiência é que eu não sou vista como mulher nem mesmo pelas mulheres – ou no mínimo, eu não sou vista com uma mulher capaz de falar por mim mesma.

Isso é histórico; mulheres sem deficiência sempre cuidaram de mulheres com deficiência. Só que é apenas a gente sabe exatamente o que a gente precisa. Só a gente vive na nossa pele, no nosso corpo, e a gente não quer mais saber de nada sobre nós sem nós.

 Empoderamento só é possível quando a gente tem informação, autonomia, independência financeira, poder de escolha e tudo isso é muito mais inacessível para quem tem deficiência.

 As ruas não são acessíveis para gente, os espaços escolares e acadêmicos não tem preparo para nos receber, a mídia não se importa com a gente, o mercado de trabalho não quer a gente. Enquanto as mulheres sem deficiência estão lutando por igualdade salarial entre mulheres e homens, as mulheres com deficiência ainda estão buscando vaga de emprego.

 Enquanto as mulheres são tachadas de agressivas, loucas e revoltadas quando se impõem diante de um homem, as mulheres com deficiência são taxadas desse mesmo jeito quando se impõem diante de qualquer circunstância, diante de qualquer pessoa.

 A gente não tem sequer acesso igual à saúde – ou vocês acham que tem mamógrafo adaptado em todo lugar?

 Enquanto as mulheres sem deficiência estão tendo seus espaços para lutar contra violência sexual, as mulheres com deficiência estão em casa, invisíveis, silenciadas, sendo violentadas sexualmente, sendo fetichizadas pela sua deficiência e ninguém se lembra disso por que a sociedade não vê as pessoas com deficiência como seres sexuais.

 As mulheres com deficiência sofrem três vezes mais violência doméstica do que as mulheres sem deficiência – e de novo, também ninguém fala sobre isso. E a gente não sofre violência doméstica só do marido ou namorado, gente sofre de cuidador, de familiar…

 E sempre que eu falo nesse assunto, mulheres sem deficiência me perguntam: “Então como é que o feminismo faz para resolver isso?” A resposta é simples; Lembrando que a gente existe! Chamando a gente, ouvindo a gente. Cadê os grandes movimentos feministas chamando mulheres com deficiência para o protagonismo?

 Infelizmente, eu tenho que dizer para vocês que o que as mulheres sem deficiência fazem com as mulheres com deficiência dentro do feminismo é preconceito. Nos tratam como mulheres inferiores, exatamente como os homens fazem com as mulheres em geral.

 Mulheres sem deficiência, abram os olhos, parem de ignorar a gente, de decidir pela gente, de falar pela gente; o feminismo é para todas!

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