Indo além, apesar da sensação de não ser capaz

Independente de você já empreender ou ainda estar pensando em seguir esse caminho, tenho certeza de que você, como mulher, se identifica (ou se identificou, em algum momento), com as situações abaixo:

  • Está sempre duvidando da sua capacidade de fazer as coisas, nunca se acha boa o bastante para dar o próximo (ou o primeiro) passo;
  • Duvida da sua inteligência e acha que ainda precisa de mais um curso, especialização, certificado ou ler mais um livro para ser apta à começar / dar o próximo passo ou falar sobre determinado assunto com confiança;
  • Se cobra muito para sempre fazer mais e melhor;
  • Acha difícil aceitar elogios dos outros (principalmente quando não é sobre a sua aparência);
  • Acredita que pedir ajuda, seja lá para o que for, faz você parecer mais fraca, incapaz e vulnerável.

Você provavelmente já ouviu falar na tal Síndrome da Impostora. O termo foi criado por duas psicólogas na década de 70, e é definido como “uma experiência individual baseada em uma autopercepção de falsidade intelectual, ou seja, de ser uma fraude”. Muito mais presente no âmbito profissional, a síndrome é mais presenciada e vivida por mulheres, devido ao nosso histórico de baixo incentivo ao desenvolvimento intelectual e profissional.
Ou seja, sempre fomos muito mais incentivadas ao cuidado doméstico e da família (ou à profissões relacionadas ao cuidado) e elogiadas muito mais pela nossa aparência e “jeito meigo de ser” do que pelas nossas habilidades e capacidade intelectual. Uma realidade infinitamente diferente da vivida pelos homens que, por sua vez, sempre foram incentivados a estudar e conquistar grandes carreiras.

Por isso, essa sensação de nunca sermos boa o suficiente para gerenciarmos muitos aspectos das nossas vidas e de nunca sermos boas o bastantes para crescermos profissionalmente (quem dirá, então, criarmos nossos próprios negócios) está sempre presente. É uma voz que segue firme e forte dentro de nós e, muitas vezes, nos paralisa. A síndrome da impostora faz você acreditar que não merece sucesso ou que a sua ideia não vai dar certo, mesmo tendo trabalhado duro e até mesmo sendo reconhecida pelo que você faz.
Também faz com que você sinta que precisa se esforçar muito mais do que outras pessoas para alcançar seus objetivos, se cobrar o tempo todo para ser melhor e torna muito difícil aceitar elogios e conquistas. Ela pode ser um dos maiores sabotadores que impedem você de colocar a sua ideia no mundo e de criar uma vida mais significativa, pois quando você acredita que não é boa o bastante você deixa de agir, de mostrar tudo o que você sabe.

Em 2020, fiz uma pesquisa para entender o que impede as mulheres de colocarem suas ideias no mundo, e “eu sinto que não sou boa o bastante” foi um dos motivos que mais apareceu. E confesso que esse é um fator que atrapalha bastante o meu trabalho. Acredito que não existe uma fórmula mágica para superar a síndrome. Bom, eu acredito que não existe fórmula mágica para nada kkk mas, principalmente, entendo que a sensação de fraude sempre estará presente em nossas vidas, em maior ou menor força. 
Uma coisa que você precisa entender: não existem sentimentos positivos ou negativos. Sentimentos apenas existem, ponto. Só que alguns podem ser mais difíceis de serem experienciados e, por isso, são classificados como ruins. Mas todos os sentimentos são formas de percebermos como somos afetadas pelo mundo, pela vida, pelas situações. As consideradas “negativas” podem ser sinais bastante importantes de que algumas coisas precisam mudar ou, ainda, serem formas de nos protegermos das coisas que nos acontecem. Para dar alguns exemplos: 

  • Se todo o esforço que eu tive para uma ação da minha empresa não trouxe os resultados que eu esperava, fico triste, frustrada, chateada. Me esforcei muito e sinto que foi “tudo em vão”. A tendência de me cobrar nesses casos é muito maior. E aqui, é um sinal de que a impostora está falando mais alta: tenho a tendência de pensar que o problema é comigo e com a minha capacidade, e não com a estratégia que eu criei ou com a forma como as ações foram implantadas. 
  • Se meu médico ignora alguns efeitos colaterais da medicação e diz que são “emocionais”, eu me sinto com raiva. E me sinto dessa forma por não ter tido meus problemas reconhecidos e acolhidos, por não ter sido escutada. Um sinal de que esperava mais acolhimento e parceria desse profissional (e, no caso, de que preciso mudar de médico).

Por isso, apesar de fazer você paralisar e de fazer você se sentir muito mal consigo mesma, a sensação de fraude não é necessariamente ruim. Ela provavelmente é uma forma que você encontrou de se proteger de sentimentos como a frustração e tristeza, por exemplo. E é por isso que afirmo que a síndrome sempre estará com você, de uma forma ou de outra. Apesar disso, existem algumas coisas que você por fazer, por você e pela sua empresa, para continuar seguido apesar dela:

  • Tenha uma pasta de elogios e feedbacks positivos que você recebeu sobre a sua empresa e o seu trabalho. Essa pasta servirá de âncora para quando a insegurança bater e você achar que não é capaz.
  • Se concentre em um passo de cada vez. Foque a sua atenção e energia no que é possível fazer agora, com o que você já tem disponível. A cada passo que você avança, vai se sentindo mais confiante com as coisas que sabe fazer. Apenas antes de dar o próximo passo é que você deve se questionar: eu realmente preciso aprender mais alguma coisa para conseguir fazer isso? Mas lembre-se, fique atenta às suas emoções. Se a resposta for “sim”, mas ela estiver vindo de uma sensação de incômodo e insuficiência, pode não ser uma resposta verdadeira.
  • Procure a sua rede de apoio. Converse com suas amigas, com pessoas que você confia e conte à elas como você está se sentindo. Muitas vezes, só falar sobre isso ajuda muito à lidar com os monstrinhos na sua cabeça, além de te fazer perceber que você não está sozinha nesse barco – outras pessoas também se sentem assim.
  • Procure lembrar de conquistas passadas, de momentos em que você venceu a síndrome, em que você foi mais forte do que ela. Como foi o seu processo? O que você sentiu quando ela chegou e o que você fez para conseguir superá-la?
  • Não se compare com outras pessoas, principalmente com aquelas que já estão “mais pra frente” com seus negócios do que você. Você comparar o seu processo e o seu sucesso com o de outras pessoas que já passaram por coisas que você ainda não viveu não é nada justo com você mesma.
  • Tente reconhecer as coisas que você faz bem. E não precisa ser só no âmbito profissional…olhe para todos os aspectos da sua vida. Desde o bolo que só você sabe fazer, à organização da casa e das festas da família, ao jeito de servir como apoio para a sua amiga. A gente tem a mania de achar que existem habilidades “profissionais” e “habilidades da vida”. Mas isso não existe e, provavelmente, existem muitas coisas que você faz bem, fora do trabalho, que você nem percebe.

Espero que esse texto ajude você, de alguma forma. Sinta-se abraçada <3

Compartilhe:

One thought on “Indo além, apesar da sensação de não ser capaz

Deixe um comentário